Se quisĂ©ssemos dar um “berço” Ă moda seria sem dĂºvida Paris. É aqui que nasce a moda como a conhecemos hoje, Ă© aqui que surgem os primeiros couturiers e Ă© aqui que nasceram algumas das mais emblemĂ¡ticas maisons. Se juntarmos tudo isto aos encantos da cidade das luzes temos entĂ£o a receita para uma das fashion weeks mais aguardadas de todas as temporadas. E talvez por ser a Ăºltima Ă© o culminar de tudo, quase como um final feliz para um mĂªs completamente assoberbado.
Durante 9 dias
todos os olhos estiveram postos em Paris e a verdade é que ninguém sabia bem
para onde olhar. Uma lista infindĂ¡vel de supermodelos, trendsetters, bloggers, it girls encheu a capital francesa. Foi um corrupio louco de desfiles
atrĂ¡s de desfiles onde choveram novidades, tendĂªncias e surpresas.
Existe sempre uma
grande expectativa por trĂ¡s dos desfiles da Chanel. NĂ£o sei se serĂ¡
curiosidade para ver as novas coleções ou curiosidade para saber que cenĂ¡rio
Karl Lagerfeld inventou desta vez. E mais uma vez voltou a surpreender mas nĂ£o
por ter conseguido superar o aeroporto ou o supermercado, mas sim por nĂ£o ter
feito nada. Bem na realidade fez e hĂ¡ atĂ© quem diga que o facto de ter
abandonado os cenĂ¡rios megalĂ³manos Ă© sĂ³ por si um certo ato de revolta. Lagerfeld
decidiu optar por ambiente que em tudo fazia lembrar as primeiras apresentações
de alta-costura e onde todos os convidados tiveram direito a um lugar na tĂ£o
cobiçada primeira fila.
Foi também à s
origens que regressou Hedi Slimani. A sua clara homenagem ao trabalho de Yves Saint
Laurent contou com um pequeno twist
bem ao estilo dos anos 80, mantendo assim o seu cunho especial que revolucionou
a maison francesa e que a tornou num
dos nomes mais “cool” do momento.
Foi a semana de
estreias: Balenciaga com Demna Gvasalia e Lanvin sem Alber Elbaz. Quem viu a
ultima coleĂ§Ă£o de Alexander Wang para Balenciaga e a primeira coleĂ§Ă£o sob a
direĂ§Ă£o de Gvasalia vĂª uma diferença abismal. Tal como Hedi, tambĂ©m o ex-diretor criativo da Maison Martin Margiela foi beber inspiraĂ§Ă£o ao criador da
marca, CristĂ³bal Balenciaga, mas como uma abordagem bastante prĂ³pria que jĂ¡ notĂ³ria
no seu trabalho para Vetements.
Lanvin foi uma
marca que nunca me “aqueceu nem arrefeceu” mas confesso que o trabalho desta
equipa me deixou com a “pulga atrĂ¡s da orelha”. As opiniões divergem: hĂ¡ quem
diga que perdeu por completo o cunho especial de Elbaz e hĂ¡ quem diga que
perdeu a identidade que a marca tinha vindo a construir. Pensando bem talvez
tenha sido que me fez olhar duas vezes para esta coleĂ§Ă£o.
Se o desfile de Balmain
primou, entre muitas outras coisas, pela diversidade do line up, Miu Miu seguiu a mesma onda. Mas se Oliver se cingiu Ă
multiculturalidade, Miuccia apostou nas curvas de Lara Stone, Irina Shayk e
Adriana Lima. TambĂ©m a coleĂ§Ă£o foi no mĂnimo diversa: uma mistura explosiva de sobreposições
e de influĂªncias com peças para todos os gostos, mas sem nunca perder o fator
Miu Miu.
Apesar da coleĂ§Ă£o
de alta-costura da Dior nĂ£o ter fracassado, depois do trabalho fenomenal de Raf
Simons estĂ¡ tudo Ă espera que esta equipa falhe redondamente. Pois bem ainda
nĂ£o foi desta. Talvez por se manterem fiĂ©is Ă estĂ©tica da maison, a equipa liderada por Lucie Meier e Serge Ruffieux tem
conseguido “segurar o barco” mas jĂ¡ mostraram que nĂ£o querem que o seu trabalho
acabe por desaparecer nas sombras de um futuro diretor criativo.
Giambattista Valli
e Elie Saab jĂ¡ nos habituaram a coleções completamente encantadoras, dignas de verdadeiras
princesas. E enquanto Giambattista se mantem fiel a esse registo, apenas
trocando os longos vestidos pelos mil e um vestidos de cocktail, Elie Saab
caminha a passos largos para uma nova identidade: tem deixado os seus vestidos “de
cair para o lado” na semana da moda de alta-costura. Quem diria que algum dia
me iria apaixonar por um “biker jacket” de Saab.
Em Janeiro fiquei
completamente nas nuvens com a coleĂ§Ă£o couture
da Valentino e mais uma vez a dupla Ă frente da marca deu provas de que
sabe bem o que anda a fazer. Na verdade eu nĂ£o precisava de mais provas, hĂ¡
muito que me rendi aos encantos de Maria Grazia Chiuri e de Pierpaolo Piccioli.
Gosto da identidade que tĂªm vindo a construir para a marca, gosto de toda a
coleĂ§Ă£o que me faz querer regressar aos meus tempos de bailarina e gosto particularmente
da mensagem por trĂ¡s de tudo isto: viver o presente e aproveitar o momento. Por
mais clichĂ© que seja, numa indĂºstria que cada vez funciona mais Ă velocidade da
luz, é de louvar que ainda haja quem acredite que nem tudo é efémero.
O encerramento das
hostilidades ficou a cargo de Nicolas Ghesquière. Confesso que tenho um espaço
muito especial no meu coraĂ§Ă£o para a Louis Vuitton de Marc Jacobs e que ainda
me estou a habituar a esta nova abordagem. Mas reconheço que a marca estava a
precisar desta visĂ£o fresca e arrojada para reacender o buzz Ă sua volta. Sem dĂºvida que a Louis Vuitton dos monogramas nĂ£o
é Louis Vuitton de Ghesquière.
Sem dĂºvida que hĂ¡
duas coisas que esta semana me ensinou. Em primeiro lugar podemos esquecer a
velha “lenga-lenga” do “menos Ă© mais”. Decididamente “mais Ă© mais”. Em segundo lugar
é melhor estarmos sempre preparados para a mudança, por que na realidade é o
que mantém o mundo da moda vivo.
(Imagens via Vogue Runway)
Se quisĂ©ssemos dar um “berço” Ă moda seria sem dĂºvida Paris. É aqui que nasce a moda como a conhecemos hoje, Ă© aqui que surgem os ...